-Como se chama?
O meu verdadeiro nome é Domingos Semedo de Matos, mas sou mais conhecido por Domingos Paixão.
- Que idade tem?
Tenho 92 anos.
- Tem família?
Tenho 3 filhas, 1 filho, 11 netos e 10 bisnetos.
- Como foi a sua infância?
Aos 7 anos já guardava gado, mas tinha muita vontade de aprender a ler e a escrever. Aos 11 anos fui servente na barragem da Póvoa. Ouvi dizer que na tropa ensinavam a ler. Aos 12 anos fui para Espanha com o meu pai para fazer a ceifa. Quando tinha 13 anos passei a salto (passar a fronteira ilegalmente, às escondidas) para França. Em Andaia, fomos contratados para trabalhar nas minas de carvão e caminhos-de-ferro. Mais tarde regressámos a Portugal e fomos trabalhar para as herdades.
-Como aprendeu a ler?
Quando eu era novo os tempos eram muito difíceis e os meus pais não puderam mandar-me para a escola. Trabalhava-se de sol a sol e, por vezes, só descansávamos cinco horas por dia. No entanto, desde muito cedo que tinha vontade de estudar e nunca me consegui esquecer da escola.
A minha esperança era a tropa. Entrei primeiro para o quartel de Abrantes, mas descobri que aí não me ensinavam a ler. Desta forma, avancei para Lisboa e fui parar ao quartel da Cova da Moura. Aí aprendi a ler com um primeiro-cabo (António dos Rios), natural de Alter do Chão. Tinha tanta força de vontade que estudava dia e noite e em onze meses fiz todos os exames que me permitiram ficar com a quarta classe.
Na cova da Moura fui escolhido para impedido (moço de recados) do General Domingos de Oliveira e adido no Quartel General. Conheci pessoalmente Oliveira Salazar, que frequentava a casa do General.
Mais tarde voltei para a província (região de Montalvão), e aqui vivo desde então, trabalhando como curandeiro e massagista.
- É casado?
Sou viúvo.
- Os seus pais também trabalhavam com ervas aromáticas?
A minha mãe já ia buscar ervas ao campo para fazer chás para ela e para as vizinhas. No entanto, ela não me ensinou os seus conhecimentos. Este dom nasceu comigo.
- Com que idade começou a interessar-se pela medicina tradicional?
Aos 29 anos comecei primeiro como massagista e endireita.
Tinha muita vontade de curar pessoas. As ervas vieram mais tarde. Tinha vontade de aprofundar o conhecimento sobre ervas e hoje trabalho com 320 plantas.
- Como aprendeu o que sabe sobre ervas medicinais?
Eu via a minha mãe a trabalhá-las e assim fui intuitivamente aprendendo.
-Onde vai buscar as ervas e a argila?
Vou buscá-las ao campo.
-Quais são as virtudes da argila?
A argila é o melhor medicamento do mundo! A argila arranca tudo, até o cancro. Fui um dos primeiros a trabalhar com argila. É preparada em alguidares de barro ou madeira. Acusa onde está a doença e qual é o órgão. Suga os males como as toxinas, pus, sangue, etc. Se não houver doença a argila vem seca, mas se houver, ela vem húmida.
-Se um aluno quiser ter boa memória e concentração para ter sucesso nos estudos, que ervas lhe recomenda?
Entre outras ervas, eu recomendo o alecrim.
Outras frases do sr. Paixão:
“Antes de haver doutores e farmácias, as pessoas tratavam-se com as ervas… e não havia doenças como agora.”
“Deus dá-nos as ervas para nos darem melhoras ou curar.”
“Tenho uns 200 livros de medicina e outros 200 de outros assuntos.”
Leonor Andrade 7ºB
Simone Gorny 7ºB